quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O que está acontecendo com o sistema elétrico brasileiro?

 Situação do país hoje é muito diferente da vivida em 2001 – apesar do que alardeia a imprensa
O assunto virou tema frequente no noticiário e porrete contra a presidenta Dilma, tendo em vista as eleições de 2014.
Mas, afinal, o que está de fato acontecendo com o setor de geração de energia elétrica no país?
O primeiro problema diz respeito ao forte aumento do consumo.
Segundo informações da Empresa de Pesquisa Energética - EPE, ligada ao Ministério de Minas e Energia isso se deve a três fatores:
  • O governo vem adotando medidas para estimular a demanda e ampliar a eletrificação do país. Um exemplo, é o Programa Luz para todos;
  • Há ainda um esforço para modernizar a matriz energética, em favor das fontes sustentáveis e em detrimento de fontes poluentes, como o carvão. Este tópico será tratado mais abaixo;
  • Finalmente, há  a retomada do poder aquisitivo da população, fato que também força o consumo para cima.
Com tudo isso, mudou o perfil do consumo de energia no país que vem crescendo em médias superiores ao crescimento da oferta.
No período entre 2010 e 2011, por exemplo, o consumo final de energia elétrica no país cresceu 3,3% contra um crescimento de apenas 1,3% da  oferta interna. Ver o gráfico abaixo.
O segundo problema, é o atraso  do período das chuvas. A ênfase dada pelo governo brasileiro nas hidrelétricas torna o país dependente da hidrologia, que não é algo governável – pelo menos ainda não.
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O apagão de 2001 e Dilma
A situação de hoje é diversa da enfrentada em 2001 quando a falta de chuvas deixou várias represas vazias e fomos obrigados a racionar energia. Após uma década sem investimentos na geração e distribuição de energia elétrica no Brasil, o governo Fernando Henrique Cardoso foi surpreendido pela necessidade urgente de cortar em 20% o consumo de eletricidade em quase todo o País.
Felizmente, as chuvas voltaram torrenciais ainda em dezembro e isso permitiu o fim do racionamento em fevereiro.
Foi naquela época que Dilma Rousseff começou a projetar a imagem de boa gestora que a levou ao Palácio do Planalto como ministra de Lula e depois como presidenta.
Duas vezes secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, coube a ela negociar, na ocasião, a exclusão do estado gaúcho do racionamento imposto por FHC, já que suas represas estavam cheias e houve retomada de investimentos no setor. Sobrava energia no Sul, com Dilma, e não havia linhas de transmissão para outras regiões
Os dados da EPE mostram que de 2001 para 2012 a capacidade do Sul de transportar energia para o resto do país aumentou em 80%. No mesmo período, a capacidade instalada de geração cresceu 75% no país. Na mesma comparação, a capacidade de termelétricas aumentou 150% e a capacidade de transmissão de energia, entre as regiões, cresceu 68%.
Matriz mais equilibrada no futuro
Apesar de todos os investimentos, os números mostram que existe, portanto, e de fato, um gargalo na produção de energia que precisa de soluções. Mas estamos longe de uma situação como a de 2001 e do risco de apagões.
Este é um problema geral visível também em outras áreas. O novo ciclo de crescimento do Brasil impõe pesados desafios para a construção de uma infraestrutura que lhe seja correspondente. Nesse ponto, enfrentamos a herança de um passado onde a prioridade não estava no desenvolvimento nacional.
A meta do Ministério de Minas e Energia é diversificar a matriz energética brasileira. Atualmente, a produção está fortemente focada nas fontes hidráulicas, que respondem por mais demais de 78% da produção nacional e ainda não é suficiente, como vimos: o Brasil importa hidroenergia.
O Plano Nacional de Energia 2030, um alentado documento que orienta as políticas nacionais nesta área, aponta para a queda relativa da geração com fonte hídrica (essa queda pode variar em até 50% conforme a fonte consultada), e para o aumento da participação de outras formas de produção, tais como a eólica, biomassa, usinas térmicas ( movidas principalmente a gás e carvão), além novos projetos em energia nuclear sem data para serem iniciados.
De volta ao carvão?
Preocupantes são as movimentações no âmbito do governo federal quanto às usinas térmicas.
Atualmente, elas apenas são acionadas em caráter emergencial, pois são vistas como uma fonte complementar. Com as usinas hidrelétricas sofrendo a baixa nos reservatórios de água, mais termelétricas foram ativadas para dar suporte ao sistema.
O governo Dilma pondera a possibilidade de reabilitar as térmicas e dar a elas um papel mais importante e permanente, tendo em vista garantir a segurança energética, conforme anunciado pelo jornal Valor, edição de hoje, dia 10 de janeiro.
Se isso acontecer, será uma reviravolta nos compromissos ambientais internacionais que o Brasil vem assumindo. O carvão é de longe a fonte de eletricidade mais poluente e com mais gases do efeito estufa produzidos por quilowatt hora do que qualquer outro combustível fóssil.
Essa sinalização do governo brasileiro parece acompanhar uma tendência mundial – o que torna o assunto ainda mais sério.
A Agência Internacional de Energia vem constando o crescimento contínuo da quantidade de eletricidade gerada a partir de carvão, principalmente na Europa. Em alguns países europeus, as taxas anualizadas são de até 50%.
Os dados da AIE mostram que o carvão é a segunda fonte de energia primária no mundo, depois do petróleo, e a primeira fonte de geração de eletricidade em todo o mundo. O consumo aumentou em cerca de 60% desde o inicio deste século até 2010.  Isso se deve à alta do preço do gás na Europa e ao baixo custo da madeira nos países em desenvolvimento. A Europa, a China e a Índia têm liderado o aumento no consumo global de carvão.
Acesse a síntese do Balanço Energético Nacional 2012.
Acesse o site da Empresa de Pesquisa Energética – EPE.
Acesse o jornal Valor Econômico.
Acesse o tópico sobre a produção de carvão no mundo no site da Agência Internacional de Energia (em inglês).